"Tosca" no São Carlos


Apresentada em Portugal pela primeira vez no ano a seguir à sua estreia absoluta em Roma em 1900, Tosca regressa ao palco do São Carlos com a assinatura do encenador canadiano Robert Carsen, no ano em que se comemora o 150.º aniversário do nascimento de Giacomo Puccini (1858-1924).
Lothar Koenigs, que estreou a obra Graffiti de António Pinho Vargas à frente da Orquestra Sinfónica Portuguesa no CCB, faz agora a sua estreia no fosso do São Carlos.
Com a chancela da Vlaamse Opera (Antuérpia, Bélgica), a equipa criativa encabeçada por Robert Carsen envolve Anthony Ward na assinatura da cenografia e figurinos e Davy Cunningham na concepção do desenho de luz.
No São Carlos esta produção conta com dois elencos na interpretação dos papéis principais, destacando-se o regresso de Elisabete Matos, no papel da célebre heroína pucciniana, e Vladimir Vaneev na pele de Scarpia, e, pela primeira vez no São Carlos, Evan Bowers no papel de Cavaradossi.

T O S C A
Giacomo Puccini
Teatro Nacional de São Carlos
15. 19. 21. 23. 28. 30. Maio 2008 às 20:00h
3. 5. 7. Junho às 20:00h
17. Maio às 16:00h
1. Junho às 16:00h – Matinée Família


Gweneth-Ann Jeffers sobe ao palco do São Carlos pela primeira vez para interpretar Tosca, ao lado de Johannes von Duisburg no papel de Scarpia, e Emil Ivanov no do pintor Cavaradossi.
Mário Redondo, Luís Rodrigues, Carlos Guilherme, João Merino e João de Oliveira estão de volta ao palco do São Carlos na interpretação dos papéis (respectivamente) de Angelotti, Sacristão, Spoletta, Sciarrone e Carcereiro.
Participam nesta produção, o Coro dos Pequenos Cantores da Academia de Amadores de Música, o Coro do Teatro Nacional de São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa.
A Matinée Família de Tosca está agendada para domingo, 1 de Junho às 16:00h. Aproveite a oportunidade de assistir ao primeiro trabalho de Robert Carsen apresentado no São Carlos beneficiando dos preços especiais para as famílias: Adultos: 10€; Jovens dos 6 aos 18 anos: 5€.
Estes preços especiais são reservados a adultos acompanhados por, no mínimo, uma criança ou jovem até aos 18 anos. Aos adultos não acompanhados por crianças ou jovens serão cobrados bilhetes a preço da tabela de avulsos.
As Breves Palavras pelos Compositores de Hoje, que têm lugar trinta minutos antes das récitas da Tosca, cabem a Luís Tinoco, autor do musical Evil Machines que estreou com grande êxito no São Luiz em Janeiro último.

O elenco no São Carlos
“Tosca”
Elisabete Matos [15. 17. 19. 21. 23. 28. Mai.]
Gweneth-Ann Jeffers [30. Mai. 1. 3. 5. 7. Jun.]
Scarpia
Vladimir Vaneev [15. 17. 19. 21. 23. Mai.]
Johannes von Duisburg [28. 30. Mai. 1. 3. 5. 7. Jun.]
Cavaradossi
Evan Bowers [15. 17. 19. 21. 23. 28. 30. Mai.]
Emil Ivanov [1. 3. 5. 7 Jun.]
Angelotti
Mário Redondo
Sacristão
Luís Rodrigues
Spoletta
Carlos Guilherme
Sciarrone
João Merino
Carcereiro
João Oliveira
Orquestra Sinfónica Portuguesa
Coro do Teatro Nacional de São Carlos
maestro titular Giovanni Andreoli
com a participação do
Coro dos Pequenos Cantores da Academia de Amadores de Música
maestro titular Vítor Paiva
Produção Vlaamse Opera, Antuérpia (Bélgica)

“Tosca” de Giacomo Puccini
Melodramma em três actos
Libreto de Luigi Illica e Giuseppe Giocosa segundo La Tosca de Victorien Sardou Estreia absoluta Teatro Costanzi de Roma a 14 de Janeiro de 1900.
Estreia em Portugal Teatro Nacional de São Carlos a 30 de Fevereiro de 1901.
Durante a escrita de La Bohème, em 1895, Puccini assiste, em Florença, ao drama em cinco actos La Tosca, de Victorien Sardou – cujas peças arrebatavam então os teatros europeus –, protagonizado pela afamada Sarah Bernhardt, para a qual fora escrito. Seduzido, há vários anos, por esta obra, o compositor confirma a intenção de lhe dedicar uma ópera, solicitando a Ricordi os direitos sobre a adaptação recentemente feita por Illica. Puccini mantém-se especialmente atento a todos os detalhes que deveriam conferir veracidade ao drama, salientando especialmente as tonalidades de couleur locale. Apesar de uma tumultuosa estreia, a obra obtém um imenso impacto, mantendo a sala completa durante vinte representações. No entanto, a crítica e a intelligentsia musicais dividem-se perante a densidade do melodrama, assinalando a brutalidade da intriga e questionando a ânsia de verdade e dramatismo.
Contundente e controversa, a ópera de Puccini conduz as cenas a violentos cumes de dramatismo e as personagens a clímaxes de paixão e sofrimento, desafiando estereótipos
dramatúrgicos. Detenhamo-nos sobre o final do segundo acto: Floria Tosca, enfurecida, acede às investidas do Barão Scarpia, pedindo-lhe que, em troca, liberte imediatamente o seu amante, Mario Cavaradossi. Scarpia regozija-se – Tosca pertence-lhe, finalmente. A tensão dramáticomusical encontra um expoente inusitado: a cantora avista uma faca pontiaguda sobre a mesa, e com ela, num gesto impetuoso, trespassa o peito de Scarpia, afirmando: Questo è il bacio di Tosca! Nesse momento, assume a plenitude da sua força, desafia o opressor, persevera na sua morte. Finalmente, aproxima-se do corpo inerte, proclama incisivamente: È morto! Or gli perdono! E avanti a lui tremava tutta Roma!

Argumento
A acção decorre em Roma durante o regime pontifício, exactamente nos dias 17 e 18 de Junho de 1800

Acto I
Interior da Igreja de Sant’Andrea della Valle
Angelotti, um importante prisioneiro político que acaba de se evadir da prisão (o Castel Sant’Angelo em Roma), entra precipitadamente na Igreja de Sant’Andrea della Valle e esconde-se na capela da família Attavanti. O Sacristão aparece, esperando ver o pintor no seu lugar de trabalho, mas este, Mário Cavaradossi, só chega após alguns momentos. Quando o pintor remove o pano que cobre a tela inacabada, o Sacristão reconhece no retrato religioso, que representa Maria Madalena, o rosto de uma devota de identidade desconhecida que tem vindo rezar à igreja (trata-se da jovem Marquesa Attavanti).
O pintor medita nas semelhanças entre o rosto retratado e o da sua amada, a cantora Floria Tosca.
Quando Cavaradossi fica só, Angelotti surge do seu esconderijo e é surpreendido por Mario que, reconhecendo-o, o saúda e, fazendo jus às suas convicções republicanas, se oferece para o ajudar.
Nisto, ouve-se a voz de Tosca, a célebre cantora que corresponde ao amor de Cavaradossi. Angelotti esconde-se, levando consigo a merenda do pintor. O tempo que Tosca tem de esperar até que Mario lhe abra a porta da igreja é o suficiente para desencadear uma das suas crises de ciúme. Cavaradossi tranquiliza-a e o casal combina encontrar-se à noite depois do concerto de Tosca para passarem juntos o resto do serão. Porém, ao reconhecer no retrato a Marquesa de Attavanti, Tosca reage furiosamente e obriga Mario a jurar que entre ele e a Marquesa nada se passa. Mario afirma veementemente que a viu ocasionalmente na igreja, mas que nem ela se deu conta de que servia de modelo. Aplacada outra vez a ira, Tosca responde ternamente aos galanteios de Mario, mas não sai da igreja sem antes insistir para que ele pinte de negro os olhos de Maria Madalena.
Ficando a sós com Angelotti, Cavaradossi oferece-lhe a sua casa como esconderijo. Angelotti revela que a sua irmã, a Marquesa de Attavanti, escondeu sob o altar um leque e roupas femininas para se disfarçar.
Um tiro de canhão denuncia que foi descoberta a fuga de Angelotti. Os dois homens saem apressadamente da igreja.
O Sacristão reaparece, portador de boas-novas: a derrota das tropas de Napoleão. Clérigos e meninos do coro regozijam-se ruidosamente, mas são interrompidos por Scarpia, o terrível intendente da polícia, acompanhado pelo seu braço-direito, Spoletta, e de outros agentes que procuram Angelotti. Scarpia encontra, dentro da capela, um leque com as armas dos Attavanti. Enquanto repara no quadro de Maria Madalena pintado por Mario Cavaradossi, «amante de Tosca» e «adepto de Voltaire», um dos agentes descobre o cesto, agora vazio, de Cavaradossi. Tudo aponta para uma ligação entre a fuga de Angelotti e o pintor. Subitamente, Tosca entra na igreja à procura de Mario. Scarpia esconde-se e observa-a. Ao saber, pelo Sacristão, que Mario desapareceu de um momento para o outro, Tosca julga-se atraiçoada. É então que Scarpia acusa a sua presença e, com fingida amabilidade, dá a entender que o pintor a atraiçoa com a Marquesa apresentando-lhe como prova o leque encontrado na capela. Cega pelo ciúme,
Tosca sai da igreja. Scarpia dá ordem a Spoletta de que a siga. A igreja enche-se de fiéis, dando-se início ao Te Deum comemorativo da vitória sobre Napoleão. Scarpia sente que, com os seus estratagemas, Tosca poderá ser finalmente sua. Por fim, afastando os seus pensamentos, ajoelha-se e reza com profunda devoção.

Acto II
Quarto de Scarpia, no palácio Farnese. É noite.
Scarpia janta no seu apartamento do Palácio Farnese. No andar inferior a Rainha de Nápoles dá uma festa comemorativa da vitória, em que se inclui uma ária de Paisiello com Tosca como solista. Scarpia decide mandá-la chamar, a pretexto de Cavaradossi. Spoletta entra com a notícia de que só Cavaradossi foi feito prisioneiro; o paradeiro de Angelotti continua a ser um mistério. Cavaradossi recusa-se a dar informações sobre a fuga de Angelotti. Interrompendo o interrogatório, Tosca entra e corre para Mario, que lhe pede que nada revele. Mario é encaminhado para a câmara de tortura. Tosca, questionada sobre Angelotti, nega tudo. Confrontada com a tortura do seu amado, tenta resistir, mas é incapaz de se suster e, para salvar Mario, revela o esconderijo de Angelotti. A tortura cessa. Trazido perante Scarpia, Mário apercebe-se do sucedido. Quando Sciarrone anuncia a Scarpia que Napoleão venceu a batalha de Marengo, contrariando todas as notícias, a revolta de Mario contra a fraqueza de Tosca cede lugar a um rasgo de entusiasmo. Encolerizado, Scarpia envia-o para o patíbulo. Scarpia vira-se agora para Tosca, insinuando que a vida do seu amado está ainda nas suas mãos e exige que Tosca se lhe entregue em troca da liberdade de Cavarodossi. Tosca, indignada, resiste-lhe, mas o rufar dos tambores anuncia a procissão dos condenados ao cadafalso. Dentro de uma hora Mario não pertencerá ao número dos vivos, se Tosca não quiser salvá-lo. Arrasada, Tosca recorda a sua vida dedicada à arte e ao amor, iluminada
pela fé em Deus.
Spoletta regressa com a notícia de que Angelotti, ao ser descoberto, se matou e que agora tudo está pronto para a execução capital dos condenados. Vendo que não lhe resta outra solução senão ceder, Tosca acede ao desejo de Scarpia, exigindo-lhe, no entanto, uma prova de boa fé. Scarpia dá instruções a Spoletta para que se proceda a uma execução «como a do Conde Palmieri!», e explica a Tosca que se tratará de um simulacro destinado a manter as aparências, permitindo ao condenado fugir depois do falso fuzilamento. Tosca acede, mas no último momento impõe a Scarpia uma condição: redigir um salvoconduto que lhe permita a ela e a Cavaradossi sair discretamente do reino. Scarpia concorda. Enquanto escreve o salvo-conduto, Tosca vê uma faca sobre a mesa, apropria-se dela e, quando Scarpia se aproxima para reclamar o corpo da cantora, esta crava-lhe a faca no peito. Scarpia cai por terra, moribundo. Ao vê-lo morto, Tosca retira um crucifixo da parede que depõe sobre o cadáver e acende duas velas. Depois, sai furtivamente.

Acto III
Terraço do Castelo de Sant’Angelo. Começa a despontar a manhã.
Ouvem-se, distantes, os chocalhos de um rebanho. O pastor entoa uma canção. Os sinos das igrejas de Roma tocam a matinas.
Num terraço do Castel Sant’Angelo, na proximidade do Vaticano, prepara-se a execução de Cavaradossi.
Este pede ao Carcereiro que lhe conceda uma última vontade, em troca do seu anel: a de escrever algumas palavras de adeus à única pessoa amada que deixa no mundo. Feito o acordo, começa a escrever, mas acaba por ficar absorto, embrenhado em recordações nostálgicas da sua amada.
É então que entra Tosca, acompanhada de Spoletta e de um sargento da guarda. A sós com Mario, mostra-lhe o salvo-conduto e conta-lhe o que passou no Palácio. Cavaradossi mal pode crer que as mãos tão suaves de Tosca tenham podido usar de violência. Tosca recomenda a Mario que represente bem a cena do fuzilamento simulado. Mario, confiante, dispõe-se a enfrentar o pelotão de execução. Premidos os gatilhos, Mario cai deixando Tosca orgulhosa da sua actuação. A ordem de Scarpia não fora, porém, a que Tosca desejava. Apercebendo-se que Mario está morto e com o alarme do assassínio de Scarpia trazido por Sciarrone, Tosca, sem nada que a prenda à vida, lança-se do parapeito do castelo, desafiando Scarpia a defrontá-la no Julgamento Final.

Comments