Estreia "Hipólito - Monólogo masculino sobre a Perplexidade"






“Se fores apanhado nos sonhos dos outros, estás feito”
(G. Deleuze)

Colectivo 84 apresenta “Hipólito – monólogo masculino sobre a perplexidade”
dia 14 de Fevereiro (Sábado), no Fórum Municipal Romeu Correia (Almada),
pelas 21h30, no âmbito da Mostra de Teatro de Almada '09.

“HIPÓLITO – monólogo masculino sobre a perplexidade” é um texto original de Mickael de Oliveira (Prémio Dramaturgia Maria Matos 2007), e conta com a direcção artística do actor/encenador John Romão, que interpretará o texto e palco juntamente com uma criança de 7 anos (Martim Barbeiro).

SINOPSE
Este texto trata, como o nome indica, do mito de Fedra que envolve a sua vítima - Hipólito. Nas versões clássicas, a vitimização de Hipólito efectua-se através de uma lógica falocêntrica e falocrática, sendo Fedra o motivo feminino trágico, o elemento anómalo social e familiar. Neste Hipólito, Fedra, a imagem feminina que antes era ímpia, frágil e doente, surge aqui como uma mulher predadora, psiquicamente pervertida e sobretudo pedófila, numa lógica de igualdade dos géneros, «Não percebo porque é que ninguém fala das mães pedófilas / Será que elas não existem / Elas são iguais aos homens mesmo no mórbido / Elas também podem matar / Podem atirar ao lixo / sem grande transtorno / as suas próprias progenituras ou então afogá-las / com dois dias de vida e congelá-las / É por isso que hoje sou feminista / Porque acredito na igualdade dos géneros / tanto na bondade como na crueldade». O discurso de Fedra não aparece no formato das clivagens entre os sexos, esta Fedra é uma madrasta contemporânea, com “vontade de amar o seu filho com as mãos” e de satisfazer a sua necessidade doentia nele. Assim, em vez de ouvirmos o relato de Fedra, o autor propõe que se oiça o relato da vítima que passará, ao longo dos anos de abusos sexuais, a ser igualmente o predador, para castigar “a trindade” da casa, Teseu, Fedra, e ele próprio.
No monólogo fala-se de um Hipólito castigado durante a infância, mas nem por isso trágico, abordando, por vezes, em tom cómico e de humor negro problemas graves. Entre testemunhos da brutalidade de que foi vítima, do amor infantil para com a sua madrasta e da confissão de um filho de pai ausente, o falso monólogo será também uma homenagem ou uma recordação aos casos de pedofilia e de incestos que temos vindo a assistir nestes últimos anos, alimentando-se de um trabalho de patchwork de alguns depoimentos verídicos de vítimas.

TEXTO: Mickael de Oliveira
DIRECÇÃO E ESPAÇO CÉNICO: John Romão
INTERPRETAÇÃO: John Romão e Martim Barbeiro
DESENHO DE LUZ: José Álvaro Correia
DESENHO DE SOM: Francisco Pessanha e Jorge Pina
COLABORAÇÃO COREOGRÁFICA: Victor Hugo Pontes
CRIANÇAS RETRATADAS EM CENA: André de Carvalho, Francisco Monteiro, Merlin Ferreira, Muhamed Kemoko, Nuno Pereira
FOTOGRAFIAS: Martim Ramos
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Ágata Alencoão e Lara Silveira
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO: Mariana Vasconcelos
CO-PRODUÇÃO: Colectivo84, Negócio/ZDB, Penetrarte
APOIOS: Companhia Clara Andermatt, Câmara Municipal de Almada, Fundação Calouste Gulbenkian Classificação: M/16

Só achava que eras mais velha
não porque eras superior moralmente
ou porque já tinhas passado por coisas que nunca passei
porque também passei por coisas que tu nunca passaste
mas sabia que eras mais velha porque as marcas das vacinas
que tens na pele do braço eram maiores
diferentes das minhas que são mais pequenas
E essas marcas são a prova que o tempo passou »
(in Hipólito, Mickael de Oliveira)

Estreia / Digressão:
14 Fevereiro 2009, Fórum Municipal Romeu Correia (Almada)
1 a 11 Abril 2009 (quarta a domingo), Negócio/ZDB (Lisboa);
18 e 19 Abril 2009, Teatro Helena Sá e Costa (Porto);


O Colectivo 84 é um colectivo artístico sedeado em Lisboa, centrado sobretudo no teatro contemporâneo, tanto na abordagem cénica, que privilegia uma estrutura partilhada entre criação e encenação, tal como oferece à dramaturgia contemporânea portuguesa e europeia um especial relevo e um espaço amplo de expressão.
84 resultou de um encontro entre dois novos criadores, John Romão, actor e criador/encenador, e Mickael de Oliveira, dramaturgo (Prémio Dramaturgia Maria Matos 2007) e investigador em Estudos Teatrais, tendo como elo de ligação as produtoras Ágata Alencoão e Lara Silveira.
O Colectivo 84 propõe-se a elaborar, sempre dentro de um espaço artístico-conceptual europeu, projectos que tenham como ponto de partida a vontade de criar o novo. Aceitamos o risco da ambiguidade e da dificuldade desse objectivo, quase pueril, recordando a frase de T. S. Eliot, «Make it new», para tentar escapar - o mais possível - às fraudes do novo.
Porém, não basta a simples ideia do novo ou do contemporâneo, e não basta que esta se desenvolva na prática como uma ilha solta, mas sim acompanhada pelo território mais vasto da teoria para que possamos compreender o presente, distinguir o novo da novidade e, então, podermos percebê-lo, reflecti-lo, mastigá-lo e cuspi-lo com a nossa própria identidade. Daí o Colectivo 84 não incorporar somente criadores ou intérpretes, mas também intelectuais, pensadores e ensaístas que se têm vindo a associar à nossa recente iniciativa.

JOHN ROMÃO [actor/criador/encenador]
Licenciatura bietápica em Teatro – Actores/Encenadores, pela Escola Superior de Teatro e Cinema (2007). Curso internacional de aperfeiçoamento teatral “Projecto Thierry Salmon”, dirigido por Rodrigo García (2005). Curso de Formação de Actor, dirigido por Luca Aprea (2001). Curso de Estéticas e Teorias da Arte Contemporânea, na Sociedade Nacional de Belas Artes (2007). A sua formação inclui o contacto com os trabalhos de Wim Vandekeybus, Mónica Calle, João Fiadeiro, entre outros. Em teatro, trabalhou como actor com Jorge Andrade (Mala Voadora), Francisco Salgado, Rodrigo García (La Carnicería Teatro), Maria João Machado, Marcos Barbosa (.lilástico), Jean-Paul Bucchieri e Harvey Grossman. É assistente de direcção artística de Rodrigo García (La Carnicería Teatro), destacando os trabalhos Arrojad mis cenizas sobre Mickey (TNB, 2006) e Cruda. Vuelta y vuelta. Al punto. Chamuscada. (Festival d’Avignon 2007). Em cinema trabalhou com João Pedro Rodrigues (2008), Sérgio Brás D’Almeida (2007), Manoel de Oliveira (2004) e Luís Filipe Rocha (2002). Concebeu e dirigiu os espectáculos A direcção do sangue (2008), Skaters (2008), Paisagem de Harold Pinter (2006), Why can i be me (2005-2006), Distante a partir de Caryl Churchill (2004), a performance Please be my friend (2006) e a vídeo-instalação Land Escape (2007). [http://ocobertor.blogspot.com]

MICKAEL DE OLIVEIRA [dramaturgo/investigador]
Frequência do Doutoramento em Estudos Artísticos – Variante Estudos Teatrais, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em co-tutela com a Université Sorbonne Nouvelle Paris III. Licenciatura em Estudos Artísticos – Variante Teatro, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Docente da cadeira de Gestão Cultural, na Escola Superior de Educação de Leiria (IPL).
Vencedor do Prémio de Dramaturgia Maria Matos 2007. Escreveu as peças de teatro: “Amar-te longe daqui onde pudesse chamar pelo teu nome” (que integrou o Projecto Urgências 2007, Teatro Maria Matos), “Discurso sobre o Início. Discurso sobre o Fim.” (2007), “Hoje fiz amor pela 3x” (2006), “À espera adeus eu fico” (2005), cujas duas últimas encenou no TAGV (Coimbra).
Tem editado: Il a livré ton bien à ceux qui meurent (2007), trad. Ilda Mendes dos Santos, com o apoio da Maison Antoine Vitez (Paris) - Edições Christophe Chomant; e O que é teu entregou aos mortais (2007), Colecção Dramática do Teatro Maria Matos (Lisboa), Nº2. O primeiro texto teve uma leitura encenada sua no Conservatoire National de Rouen (França, 2008) e outra encenada por Valérie Diome, no Théâtre de la Place (Liège, 2007).

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