Lisboa precisa de mais uma grande sala de espectáculos?





Lisboa precisa de mais uma sala de espectáculos, qualquer coisa cujas dimensões estejam a meio caminho entre os cinco mil lugares do Coliseu e os pouco mais de mil do Centro Cultural de Belém? O assunto esteve ontem em debate, durante a apresentação dos termos de referência do plano de pormenor do Parque Mayer.

Os termos de referência são as regras pelas quais se vai orientar o planeamento urbanístico daquele pedaço de cidade, que a Câmara de Lisboa quer transformar num pólo lúdico-cultural, com teatros, bares, restaurantes, galerias de arte e um hotel.

Manuel Aires Mateus foi o arquitecto que ganhou o concurso para desenvolver a reabilitação da zona. Foi ele quem, perante várias objecções da assistência sobre a viabilidade de construir um teatro para duas mil pessoas, quando os que existem raramente enchem, explicou as potencialidades da ideia: "Criar novos públicos.

Quando o Centro Cultural de Belém foi projectado, havia a sensação de que quer as áreas de exposição, quer os auditórios tinham dimensões megalómanas. Hoje é pequeno para as necessidades. A grande escala induz procura."

Não que esteja totalmente assente que o futuro Parque Mayer venha, de facto, a ter um equipamento cultural destas dimensões. "Há determinados espectáculos que o justificam, mas há que verificar a viabilidade de uma sala destas", acautelou o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado.

Na realidade, como acabou por explicar aos jornalistas no final do debate, houve já vários promotores de espectáculos que fizeram saber à câmara que alinhariam num projecto deste género, algo que, segundo o vereador, poderá custar entre 18 e 24 milhões de euros, equipamento já incluído. Mas se Aires Mateus se referiu a este novo equipamento como um teatro adaptável a várias funcionalidades, como a ópera, já Salgado vê o futuro recinto mais virado para os espectáculos musicais.

O teatro de revista manter-se-á, assegurou Aires Mateus. Há boas possibilidades de isso acontecer, mas seja como for, os concessionários dos vários equipamentos culturais que a autarquia erguer no recinto, com ajuda das verbas do jogo do Casino de Lisboa, terão de se candidatar ao concurso que o município há-de lançar para o efeito, respondeu Salgado.

Os mais recentes planos da autarquia para o local incluem um hotel e três teatros - o Capitólio, que vai ser reabilitado, o Variedades, feito de novo ou recuperado, e a tal terceira grande sala.

E os carros, senhores?
O facto de o futuro Parque Mayer ser mais um pedaço de cidade com ruas e praças, mas destinado aos peões, devendo ser ali vedada a circulação de carros e restringido o estacionamento, preocupou vários dos intervenientes do debate de ontem - funcionários do Museu de História Natural, arquitectos e moradores da zona.

Mas a câmara não parece disposta a desistir de modificar os hábitos enraizados de quem leva o carro para todo o lado, até porque a zona está bem servida de transportes públicos. ""Eu nunca vi carros em redor da Tate Gallery nem do Museu de História Natural de Londres", observou o vereador Manuel Salgado. "Na maioria dos centros históricos do mundo não circulam carros."
In Público

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