José Saramago no Teatro


Beja, 22 Set 2007 (Lusa) - A "Jangada de Pedra" do Prémio Nobel da Literatura José Saramago vai "chegar" domingo e pela primeira vez ao palco, através dos "remos" de duas companhias de teatro, uma alentejana e outra cubana.

Falada e com o título em castelhano "La Balsa de Piedra", a peça de teatro a partir do romance do escritor português, uma co-produção da companhia de teatro Lendias d'Encantar (Beja) e do grupo cubano D'Dos (Havana), estreia domingo, às 22:00, no Teatro Municipal Pax Julia, em Beja.

O encenador Júlio César Ramirez disse hoje à agência Lusa que foi um "desafio" levar à cena a literatura de Saramago, confessando que "La Balsa de Piedra" é o projecto "mais ambicioso que enfrentou nos últimos tempos".

"Trata-se da adaptação de uma obra narrativa, de uma das figuras mais importantes da literatura dos nossos dias e, a tudo isto, une-se a transcendência do tema", explicou o também director do Teatro D'Dos.

Por outro lado, acrescentou, "Jangada de Pedra" foi um livro, que, "desde a leitura das primeiras passagens, deixou logo ver imagens e personagens perfeitamente desenhados", que "permitiram uma encenação cheia de magia".

"Aparentemente, a sinopse é breve e simples, mas intensa e muito profunda quando vemos os personagens em cena", disse Júlio César Ramirez, frisando que "as imagens da viagem na jangada até às rupturas, até ao interior do indivíduo, ofereceram possibilidades de investigar e explorar a acção cénica até às últimas consequências".

No romance "Jangada de Pedra" (1986), José Saramago conta a história ficcional de uma série de acontecimentos sobrenaturais, que culminam na separação geográfica da Península Ibérica do restante continente europeu.

A situação criada por Saramago dá-lhe oportunidades para, no seu estilo muito pessoal, tecer comentários sobre as grandezas e pequenezas da vida.

Tal como na obra de Saramago, já traduzida em mais de 20 línguas e adaptada ao cinema, em 2002, pelo realizador holandês George Sluizer, "La Balsa de Piedra" começa com a abertura de uma fenda ao longo da fronteira entre Espanha e França, seguindo-se a deriva da Península Ibérica no oceano, como uma jangada de pedra.

Segue-se uma "viagem" dos personagens através da península, sentindo-se culpados pelo sucedido e procurando uma explicação.

"É um encontro entre seres humanos solitários, que necessitam da companhia uns dos outros. Um encontro visceral, emotivo e carnal que provoca uma comoção em todos e os obriga a repensar o futuro", disse Júlio César Ramirez, referindo que "Jangada de Pedra" é também "uma metáfora sobre a realidade actual do mundo em que vivemos, cheio de rupturas".

Depois da estreia, a peça volta a subir ao Teatro Municipal Pax Julia, em duas sessões para escolas, quarta e quinta-feira, às 15:00.

Seguem-se outras apresentações em vários teatros do país até ao final de Novembro, adiantou hoje à Lusa o director artístico das Lendias d'Encantar, António Revez.

O também actor admitiu ainda a possibilidade de uma "temporada" em Cuba, com a "aspiração" de participar no Festival Internacional de Teatro de La Habana, em Setembro de 2008, além do "interesse em levar a peça até Espanha e outros países da América latina".
in Expresso 2007

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