Viriato com Programação

COMPANHIAS INÉDITAS E CRIADORES NACIONAIS MARCAM PROGRAMAÇÃO DE SETEMBRO A DEZEMBRO NO TEATRO VIRIATO

 A programação para este quadrimestre é luminosa. Raramente, conseguimos um equilíbrio tão grande na qualidade das propostas que é nivelada por cima, independentemente do espaço de apresentação. (…) A última temporada do ano, que se adivinhava sombria, pode afinal devolver à cidade [de Viseu] uma ampla carteira de propostas e um movimento intenso, graças ao balão de oxigénio que, finalmente, chegou de um financiamento do QREN [Quadro de Referência Estratégico Nacional], para reembolsar despesas de um projecto de programação em rede (5 Sentidos), há muito devidas.

Paulo Ribeiro

Marcada por um equilíbrio raro na qualidade das propos¬tas, a programação para os últimos quatro meses do ano é feita de companhias inéditas em Portugal; mas também de projetos musicais inteiramente nacionais, com dife¬rentes estilos e sonoridades, que se distribuem pela sala e pelo café-concerto; de reinventadas histórias de teatro e de dança… dança com força, em toda a sua diversidade! A companhia Gandini Juggling, João Tuna, Simão Cos¬ta, Nicolau Pais, a companhia Les Argonautes, Norberto Lobo, Ana Borralho, João Galante, Andresa Soares, Bru¬no Bravo, Companhia do Chapitô, Inês Barahona, Wray¬gunn, José Peixoto, António Quintino, Paulo Ribeiro, Mi¬chèle Anne de Mey, Miguel Guilherme e Isabel Abreu são alguns dos nomes que marcam esta programação. Mas há muito mais para descobrir! O dossiê de imprensa com toda a programação do próximo quadrimestre já está disponível em www.teatroviriato.com.

A nova temporada do Teatro Viriato abre com uma opor¬tunidade única de ver em Portugal, pela primeira vez, uma companhia que tem estado na vanguarda do novo circo, reinventando o conceito de malabarismo, enquan¬to disciplina artística. Smashed (14 e 15 de setembro) é o título do espetáculo, inspirado propositadamente no universo de Pina Bausch e que rompe com as conven¬ções da manipulação de objetos. No mesmo fim de se¬mana abre ao público a exposição Todos os Fantasmas Usam Botas Pretas (14 setembro a 15 de dezembro) produzida pelo Teatro Nacional S. João. A exposição re¬úne as fotografias de cena que João Tuna resgatou dos palcos do TNSJ entre 1996 e 2009. Segue-se a música, com Pi_ADD(a) Forte (21 de setem¬bro) feito de surpresa e poesia sonora e visual num es¬paço acústico que pode ser partilhado por quem gosta de ter o som na mão, por mais novos e por mais velhos que querem descobrir, em família, a que cheiram os sons dos instrumentos. Nicolau Pais regressa ao Teatro Viriato para apresentar Nicolau Pais & Os Originais (26 de setembro), um pro¬jeto de continuidade e consolidação de um estilo, de um conjunto de referências e vontades que tem vindo a construir desde (Re)Cover (2006/2008). Desta vez, a le¬tra é a matriz deste programa, num resgate da língua portuguesa assumido pelo músico que, neste concerto, se expõe, deliciosa e cruelmente, como autor das suas próprias rábulas. É difícil fazer justiça à beleza, simplicidade visual e in¬teligência que Les Argonautes imprimiram a este espe¬táculo de novo circo, servido na sua receita mais pura. Uma metáfora da vida aclamada pela crítica e pelo pú-blico de todo mundo que, revestida de pleno virtuosismo, questiona as vidas frenéticas e semeia o desejo de se fazer uma pausa… e brincar. É essa a essência de Pas Perdus (28 e 29 setembro)… A propósito da apresenta¬ção desta peça, Benji Bernard e Etienne Borel propõem uma abordagem a vários elementos que compõem a disciplina do circo. Artes circenses em exercício (02 de outubro) é uma proposta para interessados na área do movimento e acrobacia. Em setembro abrem também as inscrições para K Cena – Projeto de Teatro Jovem (até 08 de outubro), fundado pelo Teatro Viriato depois de vários anos a participar no PANOS, da Culturgest. Depois da primeira edição centrada apenas em Viseu, este ano o projeto evoluiu para um novo formato e foi alargado também a Cabo Verde e a Salvador da Bahia, no Brasil. Os parceiros são: o Mindelact, através do encenador João Branco e Teatro Vila Velha de Salvador, através do encenador Márcio Meirelles.

Ainda no capítulo dos regressos, Norberto Lobo (06 de outubro) também volta ao palco do Teatro Viriato, desta vez, para apresentar o disco Mel Azul (Mbari). Original, com uma qualidade rara na criação sonora, Norberto Lobo é do tipo de músicos que parece inventar tradi-ções sozinho. Versado em várias guitarras, com parti¬cular dedicação nos últimos anos à acústica, à elétrica, e, mais recentemente, à tambura, Norberto Lobo faz à guitarra o que muitos apelidam de “exorcismo”. Poucos dias depois, o palco é entregue à comunidade de vi-seu. Atlas (12 a 14 de outubro) é uma performance que re¬úne 100 pessoas de diferentes profissões de Viseu em palco. As inscrições decorreram entre abril e julho deste ano, tendo-se inscrito cerca de 150 participantes, dos quais serão agora selecionados apenas 100. Nesta obra, Ana Borralho e João Galante pretendem construir um Atlas da organização social humana, uma representação dos seres humanos através da sua função na sociedade em que se in¬serem. Uns dos motores desta peça são as ideias do artista plástico Joseph Beuys. Voltamos à música com a apresentação de Outeiro, o disco, com chancela da JACC Records, do mais recente projeto de Luís Vicente que, nesta nova aventura mu¬sical se junta a Francesco Valente e Oori Shalev – Luís Vicente Trio (17 de outubro). A música resultante deste encontro entre três músicos de diferentes nacionalida¬des, onde a identidade de cada indivíduo é irredutível, situa-se algures entre a música do mundo e o jazz, sen¬do a improvisação o elemento comum que providencia o cimento agregador das experiências e visões musicais em confronto. Depois é a vez de Andresa Soares, Lígia Soares e Ale¬xandra Sargento contarem uma aventura feita de amor, intriga e sedução, plasmada no incrível conto A forma do espaço (18 e 19 de outubro), integrado nas Cosmicómi¬cas de Ítalo Calvino, recorrendo a um dispositivo cénico que se assemelha a um teatro de sombras. No final da performance, apresentada no âmbito do Sentido Criati¬vo, os alunos são convidados a experimentar o disposi¬tivo e a criar demonstrações que contenham uma visão científica, poética e performativa. À volta de uma mesa que será também o palco, o encena¬dor Bruno Bravo junta nove atores e duas peças concen¬tradas em apenas um ato, A(s) Boda(s) (26 e 27 de outu¬bro) uma de Tchékhov e a outra de Brecht que funcionam como se fossem duas pequenas partituras. A Boda de Tchékhov tem salões e danças que se ouvem ao fundo, mas são, sobretudo, solos que se ouvem à frente. A Boda de Brecht é uma polifonia, de vozes, copos, brindes e co¬mida, travada aqui e ali, pelas histórias da noiva. A propó¬sito da apresentação de A(s) Boda(s) e partindo da premis¬sa de encontro/confronto entre o eu e o nós, o encenador Bruno Bravo propõe em Teatro.Lírico ou Dramático (27 de outubro) a exploração da figura do coro, desafiando os participantes a auscultarem as suas possibilidades dra¬máticas, a partir das propostas individuais de cada um, procurando, na prática, compreender um pouco melhor este espaço onde o individual e o coletivo habitam. Mais um regresso, desta vez, no teatro. Depois do êxito da primeira apresentação, Édipo (31 de outubro, 01 e 02 de novembro) regressa à programação do Teatro Viria¬to, com sessões para público em geral e para o ensino secundário. Um espetáculo obrigatório, marcado pela mestria do encenador e pela entrega dos intérpretes na desconstrução de uma tragédia grega.

Para escolas (3º e 4º anos do 1º ciclo, e, 5º e 6º anos do 2º ciclo), o Teatro Viriato propõe A Verdadeira História do Teatro (08 a 10 de novembro), um projeto que se esten¬de por alguns dos espaços do Teatro e que procura criar laços de parentesco fortes entre as crianças desta faixa etária e o Teatro.

NEW AGE NEW TIME, TEMPO PARA A DANÇA E PARA OS COREÓGRAFOS NACIONAIS

Em novembro lugar à dança… em força. Depois de vários anos apostados na criação de um público interessado na dança contemporânea, o Teatro Viriato apresenta ago¬ra uma mostra que reúne algumas das mais recentes criações de coreógrafos nacionais. New Age, New Time (15 a 17 de novembro) pretende proporcionar o encontro entre co¬reógrafos e intérpretes portugueses e o público, procu¬rando apoiar os criadores nacionais e criar oportunida¬des para a circulação das suas peças. Cláudia Dias, Luís Guerra, António Cabrita e São Castro, Tânia Carvalho, Marlene Freitas, Sofia Dias e Vítor Roriz apresentam as suas criações durante três dias. A coreógrafa Cláudia Dias que, recentemente, apresentou Visita Guiada no Teatro Viriato, regressa, desta vez, com Vontade de ter Vontade (15 de novembro), um projeto que nasceu da sua própria vontade de refletir sobre a sua ge¬ração e como se relaciona com o passado e o futuro, uma reflexão projetada num interessante disposi¬tivo cénico que lhe limita, propositadamente, a ação. Uma espécie de manifesto à inevitabilidade. Considerado um dos melhores bailarinos do mundo pela revista britânica Dance Europe, Luís Guerra sobe ao pal¬co com A primeira dança de Urizen (16 de novembro), um solo, inspirado na obra “O primeiro livro de Urizen” de William Blake e no universo de Valter Hugo Mãe, que põe a nu o virtuosismo do intérprete. António Cabrita e São Castro apresentam Wasteland (16 de novembro), um dueto que é também uma coleção de instantes e histórias configuradora da realidade, cons-truída em uníssono e em crescendo, culminando numa interação dissociativa, provocadora e inquietante. Danza Ricercata (16 de novembro) e 27 Ossos (17 de no¬vembro) são as criações que Tânia Carvalho apresenta no âmbito da New Age, New Time. Na primeira propõe a construção de uma coreografia para uma pianista, para uma música enquanto é tocada, expondo o seu fascínio pelo expressionismo, pela distorção da realidade com o fim de provocar emoções. Em 27 Ossos, a coreógrafa construiu uma peça inspirada em universos japoneses, feita de movimentos que contêm uma carga emotiva for¬te e complexa. Esta primeira edição da mostra de dança New Age, New Time culmina com uma peça já distinguida na Europa e em Portugal. Um gesto que não passa de uma ameaça (17 de novembro) é assinada por Sofia Dias e Vítor Roriz que se debruçam sobre a palavra, assumida como um corpo, sujeita às mesmas lógicas de composição do mo¬vimento.

Mas esta programação não é feita só de dança. Na mú¬sica destaque para os concertos de Wraygunn (22 de no¬vembro) que apresentam o mais recente álbum de origi¬nais do coletivo dirigido por Paulo Furtado, L’Art Brut e de José Peixoto/António Quintino (28 de novembro), acom¬panhados pelo convidado José Salgueiro que se juntam sob uma lógica de equilíbrio e diálogo entre influências díspares e entre escrita e improvisação. Pelo meio, mais uma proposta da programação de Sen¬tido Criativo, desta vez, para bebes até aos 36 meses. Pe¬quenos Mundos (24 de novembro), de Joclécio Azevedo e Teresa Prima, um jogo, um livro aberto para um mundo de cores, formas e sons, que ajudam a criar diferentes ambientes e estímulos cognitivos, especialmente, pen¬sados para os mais pequenos. O mês de novembro termina com a apresentação da mais recente criação de Paulo Ribeiro, JIM (título pro¬visório) (30 de novembro e 01 de dezembro). Inspirado pelos poetas e músicos malditos que foram consumidos, prematuramente, pela sua própria arte, o coreógrafo Paulo Ribeiro mergulha neste conturbado ano de 2012 para refletir sobre o lugar que cada individuo ocupa e se posiciona em relação ao mundo e sobre o lugar da dança e a sua responsabilidade poética e política.

Em dezembro continuamos com a dança, desta vez, com Lamento – Solo pour Gabriella (08 de dezembro), uma peça pungente, criada por Michèle Anne De Mey para a sua intérprete de longa data, a excecional Gabriella Ia¬cono, que revisita os códigos da tragédia clássica para os impulsionar na contemporaneidade. A Fábula do Peixe que Muda (11 a 13 de dezembro) é a proposta para os alunos do pré-escolar e do 1º ciclo do Ensino Básico, concebida e encenada por Madalena Vic¬torino. O peixe Adriano é a personagem principal desta viagem subaquática que vai desde o oceano, de onde partira no princípio dos tempos, numa corrida desen¬freada contra um cardume imparável até desaguar num lugar onde já nada nada, mas onde se ouve muito bem a voz quente e calma do oceano, pela qual ele se apaixona profundamente. Num espaço cénico claustrofóbico, intemporal e de geo¬grafia indefinida, a encenação de Marco Martins de Dan¬ça da Morte (14 e 15 de dezembro) confronta dois atores, de gerações distintas, Miguel Guilherme e Isabel Abreu, “numa releitura intensamente realista e psicológica deste drama burguês sobre o esvaziamento de objetivos, o cansaço e a procura de culpabilização do outro pelas escolhas e falhanços individuais”, assinado por August Strindberg. No contexto da pesquisa de movimento que Maria Ra¬mos explora no projeto Um Certo Grau de Imobilidade, a coreografa propõe uma oficina de exploração de diversas condicionantes da ação física. Essas restrições acabam por gerar uma série de novas situações de movimento que serão conduzidas e orientadas por Maria Ramos ao longo da oficina O corpo em ação gera narrativas (15 de dezembro).

Comments